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FEIRA

AGROECOLÓGICA 

Uma visita para conhecer de perto quem faz A Mãe Natureza
VOCÊ ESTÁ PRONTO PARA MUDAR SUA ALIMENTAÇÃO?
Toda  sexta-feira a partir das 4h da manhã
 

Av. Carlos Cruz

Praça José Geraldo da Cruz

Franciscanos
Juazeiro do Norte, Ce

Uma visita à uma feira orgânica promete mexer com os cinco sentidos do corpo humano. Os olhos serão fisgados de imediato pela exuberância colorida das frutas, legumes e verduras. O olfato se deliciará com aromas diversos. As mãos selecionarão cuidadosamente os produtos que entrarão no carrinho ou sacola de compras. O paladar provará de alimentos saudáveis, isentos de corantes e artificializantes. Os sons, entretanto, são apenas os de conversas amistosas entre feirantes e compradores que além do diálogo básico sobre os produtos, tagarelam sobre suas vidas pessoais, como fazem amigos de longa data. Por lá não se escutam os costumeiros gritos que disputam a atenção dos compradores. 

Como a Mãe Natureza nasceu

No Sítio Carnaúba, em Caririaçu, a aproximadamente 22km de Juazeiro do Norte, agricultores produziam frutas, legumes e verduras, utilizando técnicas convencionais no combate à pragas que eventualmente acometessem suas plantações – com uso de agrotóxicos, fertilizantes e adubos químicos.

 

A história começou a mudar em outubro de 2006, quando a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (EMATERCE) lançou uma semente-proposta para o grupo: deixar de mão os velhos métodos para dedicar-se a produção de orgânicos. O objetivo? Valorizar o trabalho dos pequenos produtores e ao mesmo tempo garantir uma melhora na qualidade de vida dos consumidores.

 

No princípio foi complicado. Faltava instrução, faltava mão de obra, faltavam parcerias e faltava, sobretudo, mercado interessado nos orgânicos. Os agricultores levavam seus produtos para o Mercado Público do Pirajá, em Juazeiro, mas por não possuírem água e terrenos em abundância se viram incapazes de concorrer com os comerciantes de lá, que produziam em larga escala. Outro empecilho dizia respeito à diferença de tamanho: por não conterem hormônios, os orgânicos eram menores e não foram bem vistos pela clientela do Pirajá.

 

A solução encontrada foi criar um espaço exclusivo para a comercialização de orgânicos. Organizaram-se, fundaram a Associação de Produção Agroecológica A Mãe Natureza e junto à EMATERCE procuraram a prefeitura. Não foi fácil, mas a semente vingou! Deu frutos e flores, fincou suas raízes tão profundamente que a Feira Agroecológica A Mãe Natureza já existe há nove anos e foi se popularizando no boca a boca. 

Toda sexta-feira, faça chuva ou faça sol, as onze barraquinhas montadas na Praça José Geraldo da Cruz, no bairro Franciscanos, ofertam à população juazeirense mais de 50 tipos de produtos livres de agrotóxicos. Não existe entre eles uma limitação do que cada um pode vender. No entanto, como conta a presidente da associação, Aurilúcia Borges, parece ter havido uma divisão natural. Cada um segue sua aptidão. O alface é o mais procurado, mas por lá é possível encontrar também produtos mais incomuns, como a pitomba e a macaúba. 

 

Para eles concorrência não existe. O trabalho em conjunto é mais proveitoso, fortalece o grupo e agrega valor a mercadoria. O lucro é individual, mas os preços são tabelados e qualquer alteração deve ser acordada por todos. Eles fazem questão de mostrar ao cliente o melhor produto, mesmo que esteja na banca do vizinho. Por isso, é tão comum ver um feirante indicando ao cliente o produto de outro feirante, seja por não tê-lo em sua barraca, ou simplesmente por saber que na banca ao lado tem um produto melhor.

 

Não consegue visualizar isso na prática? O vídeo ao lado conta essa situação um pouco melhor: 

POR QUE COMPRAR LÁ?

As feiras agroecólogicas são excelentes opções para aqueles que querem manter uma alimentação saudável sem precisar pagar os preços exorbitantes dos supermercados. Além disso, o consumo de produtos naturais fortalece a agricultura familiar, já que tudo o que é comercializado na Mãe Natureza é produzido pelos próprios feirantes.

 

E nem pense que a dificuldade encontrada é falta de comprador. Pelo contrário, os clientes mais atrasados costumam disputar os produtos que restam e os feirantes voltam para casa praticamente sem sobras. Entretanto, o trato de orgânicos exige mais atenção e ainda falta mão de obra. 

 

Vejamos um exemplo: O coentro leva em média sete dias para nascer, o mato aparece antes. Para combatê-lo, no método convencional, existe um herbicida que quando pulverizado age por cinco ou seis dias e quando o coentro vem nascer não há mais mato, o que facilita a colheita e comercialização. No jeito orgânico coentro e mato nascem juntos e a separação é feira manualmente. Esforço que compensa, pois como lembra Aurilúcia, “quem só consome, não sabe como é produzido”. Alimentar-se de frutas, legumes e verduras não é suficiente, pois alguns agrotóxicos são bastante danosos à saúde.

 

A clientela fiel e a amizade entre os feirantes configuram um cenário positivo que atrai vendedores de outras feiras da cidade para a Mãe Natureza. Na prática, porém, é diferente. O processo de produção, o acompanhamento de órgãos públicos e os cursos técnicos ofertados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR, desmotivam alguns dos interessados à entrarem no grupo.

 

SPONSERS

MAS AFINAL, QUEM FAZ A FEIRA ?

Marli e Gilberto formam um casal sorridente. Há cinco anos participando da feira A Mãe Natureza, hoje eles falam com orgulho sobre os frutos do trabalho na roça e de como aprenderam a lidar com a terra, sem nunca antes ter tido contato com adubo, pá ou inchada. A barraca deles é uma das mais movimentadas, foi difícil conversar sem sermos interrompidos por fregueses que se aproximavam para cumprimenta-los e, claro, fazer as suas compras da semana. 

 

Em uma conversa animada, o casal falou sobre os produtos que plantam no terreno de casa, comentaram as dificuldades de produzir sem agrotóxicos e também quais as alternativas naturais no combate às pragas. Marli e Gilberto são exemplo de como a feira Mãe Natureza e o sistema de Economia solidária podem unir o trabalho e a satisfação de ser dono do próprio negócio. Confira os áudios abaixo!

DEPOIMENTOS

Aurilúcia Borges

Essa feira é como se fosse um sonho realizado. O que a gente sonhou há 8, 9 anos aconteceu, hoje é nossa realidade. 

 

Se levarmos em questão o meio ambiente, a degradação que está acontecendo hoje em dia, tudo está levando para a ruína do planeta e nós estamos tentando resgatar o trabalho de antigamente, aquele trabalho que não agride o meio ambiente. 

 

A gente não leva nada que vá prejudicar a saúde, não tem veneno, não tem agrotóxico, nem produto químico, isso não vai pra mesa dos clientes. Se comprar nossas mercadorias daqui da feira, esse risco ele não está levando. Um risco a menos porque já são muitos...

 

Se tiver alguém que não produz orgânico passa pouco tempo na feira. Assim que a gente descobrir ele sai. Porque não é justo com o cliente que já paga um preço que não é barato, a gente tem noção disso... O cliente vem na confiança que a gente vai trazer um produto bom, porque que a gente iria enganar?

 

Eu não quero essa feira só pra hoje, só pra esses oito anos que a gente já passou. Eu quero até quando eu conseguir trabalhar, até onde for interessante pra gente, que eu acho que vai ser pra sempre... Porque é o que a gente gosta de fazer, o que faz com amor. Eu não vejo outro emprego pra mim, eu não sei se eu vou ser feliz como eu sou trabalhando com a verdura, na horta, vendo as plantinhas crescer, cuidando... Eu acho que eu não me sentiria bem.

Sr. Francisco ( Seu Tiquinho)

“Há muito tempo atrás eu já trabalhava com verduras, mas vendendo de porta em porta lá no Sítio Cachoeirinha, onde eu moro, na cidade de Caririaçu. Com feira mesmo, usando barraca, apenas há oito anos atrás, quando começou a Mãe Natureza. Foi no tempo que eu vinha para cá de jumento ou bicicleta.

 

No começo era difícil, a gente voltava para casa com metade dos produtos, mas depois que as pessoas tomaram conhecimento da feira o movimento cresceu muito, e agora é sempre cheio de freguês assim. Eu vendo 80 dúzias de ovos de capoeira toda sexta-feira, e o pessoal que chega tarde ainda reclama, porque acaba cedo!

 

As coisas hoje estão melhores. Tenho minha vaquinha de leite, crio porco, galinha e venho para feira de carro!"

AGROTÓXICO: SAIBA PORQUE NÃO USAR

Os agrotóxicos são produtos químicos usados na agricultura com a finalidade de matar ou controlar uma praga que possa prejudicar a plantação, podendo ser usado desde as primeiras fases do plantio até pouco antes da colheita. O que se discute são os possíveis malefícios para a saúde dos seres humanos e do ecossistema. 

 

A revolução verde surgiu no final dos anos 40 sob a justificativa de erradicar a fome. Entretanto, o objetivo era aumentar a produção agrícola alterando geneticamente as sementes, fertilizando o solo e usando máquinas no campo. As sementes aperfeiçoadas em laboratórios possuíam alta resistência a pragas e doenças e em seu plantio eram usados agrotóxicos, fertilizantes, implementos agrícolas e máquinas. Desta forma, os alimentos gerados surgiam em grande escala e também com alto teor de agrotóxicos.

 

No Brasil, há pelo menos 400 tipos de agrotóxicos registrados. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, somos o maior consumidor de produtos químicos no mundo inteiro - são comercializados legalmente em nosso país, cerca de 14 tipos de venenos quem têm venda proibida em outros países.

 

Para sabermos mais, conversamos com a nutricionista e professora da Faculdade de Juazeiro do Norte - FJN, Isabel Maia.

Ele seria danoso a nossa saúde? Existe algum estudo que comprove isso?

Sim. Muito. Não apenas a saúde humana, como também a do ecossistema (O organoclorado como o BHC pode resistir na natureza e no organismo humano por mais de trinta anos, se tornando um dos piores poluentes da história). Já é comprovado cientificamente os diversos malefícios que o uso exagerado de agrotóxicos causa.

 

Com relação as feiras agroecológicas, que não possuem agrotóxicos, devemos ter algum tipo de cuidado com os alimentos vindos dela?

Não, muito pelo contrário. Os alimentos vindos de feiras agroecológicas já são uma realidade no Brasil. Apenas algumas acontecem regulamentadas pelo Ministério da Agricultura. Mas a base dessas feiras é mostrar que é possível obtenção de alimentos sem o uso de fertilizantes e agrotóxicos. São alimentos plantados em solos limpos.

 

 

 

 

Como identificar se um alimento tem ou não o uso do agrotóxico?

Bom, se for industrializado, terá o selo de orgânico. Nos supermercados, já são separados algumas prateleiras com produtos orgânicos, em quantidades menores e preços mais altos. Outro lugar são as feiras agroecológicas, infelizmente ainda em pequeno número. Algumas feiras de rua, vendem o alimento como orgânico, sem ser. Portanto, o ideal é procurar as feiras regulamentadas.

 

Como saber se o uso do agrotóxico está interferindo na saúde? Conseguimos perceber algum tipo de sinal de intoxicação?

Quando mal utilizados, os agrotóxicos podem provocar três tipos de intoxicação: aguda, subaguda e crônica. Na aguda, os sintomas surgem rapidamente. Na intoxicação subaguda, os sintomas aparecem aos poucos: dor de cabeça, dor de estômago e sonolência. Já a intoxicação crônica, pode surgir meses ou anos após a exposição e pode levar a paralisias e doenças, como o câncer.

 

 

O uso do agrotóxico serve para matar pragas e insetos que venham a prejudicar a plantação. Até que ponto seu uso pode afetar as plantas, as águas e a saúde humana?

Alguns agrotóxicos são substâncias atóxicas aos mamíferos e à maioria dos insetos, mas letais para a praga específica a que se destina. Porém, muitos acabam gerando consequências para o solo, água, ecossistema de uma forma geral e mamíferos. Segundo a ANVISA, o uso intenso dos agrotóxicos levou a degradação dos recursos naturais, irreversível em alguns casos, levando a desequilíbrios biológicos e ecológicos.

 

Você, enquanto nutricionista, indica que tipo de alimentação?

Hoje, na nutrição, aconselhamos o consumo de produtos orgânicos, auxilia inclusive na prática de uma dieta detox (detoxificante a nível de fígado e intestino). Atualmente, pesquisas apontam como a alimentação e o câncer está intimamente relacionado, e o uso abusivo de agrotóxicos é um dos principais vilões.

ECONOMIA SOLIDÁRIA: O OUTRO LADO DA MOEDA

A palavra economia vem de dois termos gregos: oikos (casa) e nomos (costumes, lei), resultando em algo parecido com “regras de casa”. Quando ouvimos essa palavra, associamos a “dinheiro” ou “consumo”. Isso acontece porque o capitalismo se apropriou desse espaço, criando a economia capitalista: uma organização baseada na propriedade privada e na qual a maioria das transações envolve dinheiro. Solidariedade a qualidade de ter um sentimento que faz você se identificar com a necessidade dos outros. É simplesmente quando ajudamos um vizinho com uma xícara de açúcar, ensinamos matemática a nosso irmão mais novo ou emprestamos um livro a alguém. 

 

Você consegue imaginar uma economia que se mistura com a solidariedade? Consegue enxergar um lugar onde todo mundo coopera com a venda do outro, cada um produz o que vai vender, não há exploração de preços e todos agem como irmãos no local de trabalho? Pois bem, isso existe sim! É conhecido como economia solidária, uma nova forma de produzir, vender, comprar e trocar o que é necessário para viver. Não há exploração, ninguém tira vantagem do outro e a preservação do ambiente é o ponto de partida. A economia solidária vem crescendo nos últimos anos como forma de geração de renda, trabalho e inclusão social. 

 

De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações de Economia Solidária existem mais de 21 mil empreendimentos de economia solidária no Brasil. Dentre eles, mais de 8 mil estão no Nordeste, região pioneira no país. Só no Ceará são 1.500 empreendimentos e 85 deles estão localizados no Cariri.

 

 

Existe o Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES, que está organizado em todo o país em mais de 160 fóruns municipais, microrregionais e estaduais, envolvendo diretamente mais de 3.000 empreendimentos de economia solidária, 500 entidades de assessoria, 12 governos estaduais e 200 municípios pela Rede de Gestores em Economia Solidária, de acordo com o seu próprio site. Nele, há uma opção de “farejar” os empreendimentos de economia solidária.  No gráfico ao lado, você observa a quantidade de empreendimentos pelas principais cidades do Cariri que nós conseguimos farejar. 

 

Do valor total de empreendimentos de economia solidária no nosso Estado, 75% são voltados para agricultura familiar. Uma das melhores formas de escoamento da produção desse tipo de agricultura são as feiras agroecológicas. Na região, as duas feiras mais conhecidas são a Feira A Mãe Natureza, protagonista dessa reportagem, e a Feira de Produtos Agroecológicos da Associação Cristã de Base – ACB, localizada na Rua Cariris, em frente a ACB, na cidade de Crato. 

 

Segundo o professor e pesquisador do curso de Administração Pública da Universidade Federal do Cariri – UFCA, Raniere Moreira, não existe ainda uma explicação formal para as feiras de agricultura familiar serem tão fortes no Nordeste. “Podemos observar que a propensão para cooperar, colaborar e desenvolver ações em conjunto está muito presente no meio rural. E também, a economia solidária surgiu como alternativa de geração de renda, outra possibilidade pode ser o de que essa alternativa se mostre a mais viável.”

 

Como a demanda desses empreendimentos vem crescendo bastante, o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE do Brasil criou uma secretaria destinada à  economia solidária. 

Felipe Azevedo

 

Fazer parte da feira Mãe Natureza durante quatro semanas foi uma experiência renovadora. Lá eu tive contato com gente simples na aparência e riquíssimas em boa vontade. Valeu cada conversa e cada sorriso que recebi dos feirantes.

Amanda Cruz

 

Foi bastante intenso e produtivo acompanhar em várias sextas-feiras a movimentação de feirantes e compradores, bem como criar vínculos com as pessoas que ali se encontravam e até mesmo refletir sobre como é nossa alimentação diária. 

Alinne Alcantara

 

Contato com o povo é o que mais me encanta no jornalismo. Poder entrar em uma feira para conversar com as pessoas, ganhar um pacote de acerola e um pé de alface, depois dar voz a elas em uma matéria é muito gratificante. É poder fazer um jornalismo mais humano e solidário.

Andressa Figueiredo

 

Um achado muito feliz essa feirinha de orgânicos em Juazeiro. Ambiente agradável, gente simpática e com um sorriso estampado no rosto mesmo tão cedinho. Valeu a visita, valeu a experiência!

EXPEDIENTE

Hanna Menezes

(Técnica de Multimídia - Jornalismo na Internet)

 

Allison José Soares Gomes

(Técnico de Telejornalismo)

 

Paulo Victor Vaz

(Técnico de  Radiojornalismo)

 

Emanoella Callou Belém

(Técnica de Fotojornalismo)

 

Felipe Azevedo, Amanda Cruz, Alinne Alcantara

e Andressa Figueiredo

Fotos, áudios, textos e vídeos da Narrativa

 

Milene Madeiro

Professora da Disciplina de Jornalismo na Internet e

Supervisora da Reportagem

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